Acabei de chegar do Paraguai onde ocorreu o 7º Congresso Internacional da AACP – Sessão Latino Americana que contou coma participação de vários palestrantes internacionais, confira os temas:
Dr. Donal Warren e Dr. Gordon Klockow que abordaram o manejo de cefaléias crônicas,
Dr. Allen Moses que abordou o tema de ronco e apneia do sono em crianças e adultos,
Dr. Jorge Learreta que mostrou como se desenvolveu a técnica neurofisiológica,
Dra. Andrea Bono que apresentou um trabalho de tratamento de patologia da ATM em crianças com doenças sistêmicas autoimunes,
Dr. Richard Klein que abordou o tema implicações e complicações médicas em biometria de pacientes em clinicas de disfunção da ATM
Dra. Lídia Yavich, que apresentou casos sobre patologia da ATM em crianças e adolescentes,
Dr. Juan Carlos Arellano, que explanou sobre sistema estomatognático e postura corporal,
Dr. Javier Moreno Iribas, que abordou o tema ressonância magnética e ATM,
e Dra. Ibcia Santibáñez, que apresentou um tema muito interessante e pouco difundido entre os profissionais que lidam com dor, que são as variações circadianas em termos de doro orofacial e bruxismo.
Dr. Marcelo gostaria de saber mais sobre a técnica neurofisiológica, onde posso encontrar?
Muito Obrigado
Fábio Costa
Dr. Fábio, um bom ponto de partida é o livro: “Compêndio de diagnóstico das patologias da ATM” do Dr. Jorge Learreta. Lá também há um grande número de referências bibliográficas que dão suporte ao tema.
O termo “neurofisiologia” nada mais é que um apelido, uma vez que o objetivo é estabelecer a fisiologia e que para lograr exito é necessário entender os processos neurológicos envolvidos. Aliás, a gnatologia falhou justamente por ignorar tais aspectos partindo para uma abordagem mecânica do sistema estomatognático. Assim como a biopsicossocial e multifatorial também tem suas falhas e também não atendem e não correspondem a vários aspectos dos tratamentos e patologias da ATM.
O entendimento da neurofisiologia do sistema estomatognático, uma vez compreendido e posto em prática, permite integrar o que tem de melhor nas demais teorias e, inclusive, entender onde que elas falham. Obviamente, que não é perfeito (caso contrário, não poderia também evoluir, não é verdade?), até porque o nosso entendimento dos fenômenos naturais não é completo (em qualquer ramo das ciências!).
A grande chave para o salto na aplicação da neurofisiologia está na capacidade de mensurar e quantificar, com precisão cada vez maior, os fenômenos biológicos. Na prática diária, isso possibilita “ler” boa parte das respostas biológicas do paciente e poder redirecionar e rever as decisões tomadas, por exemplo, se um médico não tivesse como saber a titulação de marcadores de uma lesão hepática, não teria um bom referencial para determinar mudanças no tratamento tais como: troca de medicação, mudança de alimentação, identificação de outros fatores que estejam interferindo no resultado, etc.
Na odontologia há muitas perguntas a serem respondidas em base individual, tais como: por quê no paciente fulano a artrocentese só produziu um alívio das dores de três meses e em beltrano de seis? Por quê no paciente X houve um alívio com uma placa oclusal, no paciente Y houve piora e no paciente Z foi indiferente? Efeito placebo? Regressão à média? Resolução espontânea do problema? Coincidência? Como saber? Vários trabalhos com metodologias boas ou, pelo menos, razoáveis mostram o efeito que uma interferência dentária pode produzir nos músculos e no SNC, entretanto nem sempre tais efeitos correlacionam com a manifestação da dor no paciente, por quê? E também, por quê as definições classicas de má oclusão não encontram suporte científico em termos de correlação com as DTM´s? Idem para os casos onde falham os tratamentos por mais que se façam as abordagens multidisciplinares, com todos os componentes cognitivos comportamentais da terapêutica (lembra deste caso aqui?)? Observe que antes de ser feito uma cirugia ela se consultou com um especialista em DTM e dor orofacial, fez os trtamentos convencionais não invasivos (placa oclusal, fisioterapia), foram prescritos fármacos para controle da dor, inclusive opiódes fortes, como não resolveu, partiu-se para procedimentos cada vez mais invasivos, como as artrocenteses (mais de uma vez) e, posteriormente, culminou realizando (múltiplas) cirurgias… Observe que todo percurso feito pela paciente é exatamente o preconizado por várias entidades internacionais como a American Academy of Orofacial Pain – AAOP:
Fonte: site da AAOP
Ora, não temos dúvida que as aplicações dos conceitos da biopsicossocial e multifatorial falharam com essa paciente. No relato original, constava os nomes do profissionais que atenderam ela, que são profissionais reconhecidos (eu conheço alguns deles e provavelmente você também) e tenho certeza que tudo que fizeram foi na melhor das intenções e, principalmente, de acordo com as recomendações da AAOP!!! . Ou seja, tudo foi de acordo com o figurino, MAS FALHOU!
O que pode ser feito para que ocorram cada vez menos falhas como estas? Onde estão estas falhas? Nos profissionais? Creio que não. Nas recomendação? Numa primeira análise parece que sim, mas se aprofundarmos no tema, teremos de concluir que uma entidade renomada não poderia estar com recomendações propositadamente erradas! Certamente estas recomendações existem porque as pessoas (muitos pesquisadores bastante ativos) por trás das organizações interpretam e realmente crêem que estão diante das melhores evidências científicas, estes profissionais certamente estão fazendo o que podem e estão dando o melhor de si. Logo, o que podemos concluir é que estamos diante de algo muito mais profundo, que demanda a mudança de conceitos básicos que não estão nos deixando “ver” onde é que está o problema.
Em toda a história da ciência, estes são daqueles momentos em que a visão por um outro prisma pode esclarecer e promover algum avanço real, ainda que não definitivo ( a ciência nunca o é, não é verdade?).
ESTA NOVA VISÃO É A NEUROFISIOLOGIA E PATOLOGIA DA ARTICULAÇÃO CRANIOMANDIBULAR.
Atenciosamente,
Marcelo Matos
Dr. Fábio, completando…
Do ponto de vista prático da aplicação dos conhecimentos em neurofisiologia, pode-se dizer que é uma inteligente mescla de, fundamentalmente, quatro áreas da odontologia: DTM e dor orofacial, com as técnicas de manejo da dor aguda e crônica; ortopedia cranio mandibular, uma vez que as lesões estruturais da ATM implicam aspectos da relação postural entre mandíbula e crânio, estomatologia, por considerar os aspectos relativos à medicina oral e radiologia, por utilizar os recursos de imagem de uma maneira completamente integrada ao processo de diagnóstico e ao monitoramento terapêutico. Aliado a isso, utilizamos de forma constante os conhecimentos das seguintes áreas médicas tanto para diagnóstico diferencial quanto em termos de parceria com os médicos para suporte ao tratamento da ATM: imunologia, imunogenética, reumatologia, infectologia, neurologia e otorrinolaringologia.
Em resumo, é a própria concepção do tratamento multidisciplinar posto em prática de uma maneira inteligente.
Atenciosamente,
Marcelo Matos