A melhor resposta para essa pergunta é: com um bom acompanhamento profissional de longo prazo!

Explico:  nenhum parâmetro sintomático isolado serve como uma boa referência. Nem mesmo a ausência de dor nas ATM e a melhora da abertura de boca. Isso mesmo, você leu corretamente: a ausência de dor e a melhora da amplitude de abertura da boca NÃO SÃO bons parâmetros para saber se a cirurgia da ATM foi realmente um sucesso biológico. E explicarei o porquê.

Muitas lesões da ATM podem passar grandes períodos, como meses ou mesmo anos, sem apresentar maiores sintomas, progredindo lenta e silenciosamente, sem que a pessoa perceba.  Tenho casos de pessoas que passaram anos achando que haviam se livrado do problema na ATM, até que descobriram da pior maneira que o problema “tinha voltado”. Na verdade, não é que voltou. O problema nunca deixou de estar lá, apenas entrou numa fase silenciosa.

Vou dar alguns exemplos abaixo.

Caso 1.

Paciente com quadro de dor intenso, com muitas limitações funcionais, dificuldade de mastigação, etc. Essa é a imagem de antes da cirurgia aberta de discopexia (que serve para recolocação dos discos no lugar) de um dos lados:

Imagem da ATM prévia à cirurgia aberta de discopexia

Após a cirurgia, a paciente relatou uma melhora na dor da ATM por um período, mas percebeu um agravamento das dores de cabeça. Um ano após a cirurgia, passou a ter muita dificuldade de mastigar alimentos duros, desenvolveu dor extrema na face e muitas dores nos ombros e pescoço. A imagem a seguir mostra que um ano após a cirurgia, a ATM sofreu uma acentuada DEGENERAÇÃO estrutural! Mesmo considerando que passou um ano quase sem dor na região. Ou seja, a lesão passou a dar dor à distância (cabeça, ombros e pescoço) sendo que sintomas típicos de DTM só apareceram um ano depois!

cirurgia da ATM - imagem pós-operatória

Caso 2.

Paciente que não apresentava queixa de dor, mas sim de uma mandíbula “pequena”, condição chamada de retrognatia, a qual foi submetida a uma cirurgia ortognática combinada com uma cirurgia de disco (discopexia). A ideia era corrigir apenas o problema facial e garantir estabilidade pela cirurgia da ATM.

ortognática pós e RM pré

Um ano após a cirurgia, a paciente se encontrava assintomática (com relação ao sintoma dor) com excelente amplitude de abertura de boca (52mm). No entanto, apesar da amplitude de movimento, se queixava de uma certa dificuldade de movimentar a mandíbula e aproximadamente um ano e três meses da cirurgia, começou com uns sintomas bem leves de DTM, que foi quando a paciente me procurou. As imagens a seguir, mostram a situação  de pouco mais de um ano da cirurgia, que me assustou muito na época, pois não só os discos VOLTARAM a se deslocar, como houve uma osteólise (degeneração óssea) tão grande que a âncora usada para fixar o disco ficou completamente solta do osso! Veja:

tomo e RM pós

Caso 3

Este terceiro caso é de uma paciente que ficou dois anos sem dor e sem limitação após uma artroscopia da ATM, no entanto, quando a dor retornou, atingiu um patamar que ela descreve como “insuportável” , com muita limitação funcional:

Após- artroscopia

Portanto, o fato de estar sem dor e com boa abertura de boca não significa que esteja tudo bem!

Claro, essas duas coisas são importantes. É preciso estar sem dor e sem limitação de abertura! Mas é preciso acompanhar de perto com imagens e estudos funcionais para poder intervir tão logo algum problema comece. Isso evita que a pessoa só descubra quando o problema estiver avançado.

Se você passou por uma cirurgia da ATM, ou mesmo uma cirurgia ortognática, converse com seu cirurgião para fazer um acompanhamento de rotina por um período longo, mantendo um olhar atento às flutuações de sintomas (ainda que sejam brandos) e às mudanças das características estruturais (ligamentos, disco, côndilo, etc.) que possam indicar uma reabsorção (degeneração) após à cirurgia.

Os cirurgiões buco-maxilo-faciais que são meus parceiros aqui na clínica ou que possuem formação em patologia da ATM costumam acompanhar com consultas periódicas MESMO QUE OS PACIENTES ESTEJAM ASSINTOMÁTICOS.

Se seu cirurgião costuma lhe pedir para retornar com frequência mesmo você achando que não precisa (porque você pensa que está bem já que “não tem sintomas”), tenha em mente que ele(a) está sendo CUIDADOSO(A)!

Eu tenho casos que se mantiveram “assintomáticos” por SEIS ANOS e que quando os sintomas apareceram deixou o paciente com dores excruciantes e praticamente sem vida social e profissional.

Portanto acompanhar é muito importante e é ainda mais fácil quando se combina com uma abordagem neurofisiológica, pois se torna possível monitorar os parâmetros funcionais e intervir quando se fizer necessário.