Uma das formas mais populares de diagnosticar uma DTM é por meio de um questionário e exame físico padronizado conhecido como RDC-TMD (Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders). Mas a pergunta é:  o diagnóstico baseado nesses critérios são confiáveis para detectar as doenças da ATM?

DTM e Patologia da ATM são duas coisas distintas que vão muito além de questão de semântica. O expressão  DTM se refere normalmente ao conjunto de sinais e sintomas, especialmente o sintoma  dor, já a expressão patologia da ATM se refere às doenças próprias da ATM, ou seja a artropatia ( do grego arthron, que significa articulação + pathos, que significa doença). Um paciente com a ATM afetada por uma artrite reumatóide (AR), por exemplo, pode ficar eventualmente livre de DTM segundo os critérios do RDC-TMD: sem dor à palpação, sem limitações de movimento, sem ruídos, etc, no entanto não deixa de ter uma artropatia (a doença da ATM em si ) que está condicionada à doença sistêmica. Como no caso da AR pode ocorrer  re-agudização a qualquer momento, o paciente pode voltar a ter DTM, afinal a medicina não oferece cura para a AR, apenas o controle. O mesmo vale para outras condições artropáticas não ligadas à AR.  Portanto a artropatia temporomandibular, mesmo sem dor, tem implicações clínicas importantes, podendo ter significativo impacto na vida da pessoa. Tendo isso em mente é mais fácil entender que os conceitos de “DTM” e “patologia da ATM” são coisas distintas, mas que se sobrepõem em várias circunstâncias, o que nos leva ao ponto principal do tópico: os problemas com o RDC-TMD (que recentemente mudou para apenas DC-TMD…).

Bom, o RDC-TMD se baseia primariamente na localização da dor, um sintoma subjetivo. Em função da localização das estruturas presumivelmente afetadas, divide-se o “diagnóstico” (entre aspas porque é, em realidade, apenas uma classificação, não um diagnóstico) em DTM muscular e articular. A partir daí buscando alguma evidencia dos subtipos no exame físico. Entretanto, em 1992 quando o RDC foi criado, essa divisão baseada em sinais e sintomas já era ultrapassada, pois tal classificação entre articular e muscular é anterior a essa data, particularmente na década de 1970 e 1980 quando a ADA (American Dental Association), por sugestão do Daniel Laskin, adota o termo TMD (DTM em português) em substituição ao termo “síndrome” (síndrome miofascial, síndrome temporomandibular, síndrome da dor-disfunção, etc) que eram usados. No entanto, o “diagnóstico” continuou sendo baseado nos mesmos princípios. O Problema é que essa era uma época anterior ao acesso às ressonâncias magnéticas, tomografias e mesmo uma simples transcraniana, como a técnica de UpDegrave e outras similares que aparecem em 1965, era de difícil acesso. Assim, o diagnóstico era com o que apenas se podia, “ver, ouvir e tocar”, a despeito de todo o esforço do C.Greene e sua escola biopsicossocial. Isso tudo implica no fato de que, ao contrário que muitos pensam, o RDC-TMD não está validado!!! E isso acontece por uma característica simples: a “dor” é biopsicossocial, mas a “artropatia” não. Logo, determinar DTM e suas condições patológicas relacionadas com base em localização da “dor’ possui uma série de problemas que a comunidade científica já conhece e que o dia a dia clínico comprova. Veja a foto abaixo, são três casos diferentes onde o “diagnóstico” do RDC erra completamente o alvo.

Falha do diagnóstico baseado no RDC

Mas para quem quiser acreditar em algo além da minha palavra, basta ler os artigos que o confrontam, por exemplo: The Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders. III: validity of Axis I diagnoses. Truelove E et al J Orofac Pain. 2010 Winter;24(1):35-47

Tradução:

“Conclusão: O Eixo I do RDC / TMD DTM não atingiu os critérios de sensibilidade de > ou = 0,70 e especificidade de > ou = 0,95. A validade foi obtida apenas para a dor miofascial, sem diferenciação entre a abertura normal e limitado. (…)”

Detalhe importante publicado no próprio JOP – Journal of Orofacial Pain!!!! E assim como esse, há muitos mais.