Muitas vezes me perguntam: “Dr. Marcelo, por quê fazer uma ressonância magnética (RM) se utilizando testes clínicos eu consigo diagnosticar, na maioria das vezes,  um deslocamento de disco com redução?  “Em que a RM muda na conduta clínica?”

Acontece que isso ocorre por conta da classificação conhecida como RDC-TMD (Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders) discutido por Dwokin e LeResche em 1990 e proposta em uma publicação de mesmo nome em 1992 no Journal of Craniomandibular Disorder, na secção de dor orofacial.  Esta classificação  distribui as desordens da ATM em três  grandes grupos: I) DTM muscular,  II) DTM articular por desordens do disco e  III) DTM articular por artralgia, osteoatrite ou osteoartrose.  Dentre as DTM do grupo II, encontram-se três possibilidades:  II.a) deslocamento de disco com redução, II.b) deslocamento de disco sem redução com limitação da abertura da boca e por último II.c) deslocamento de disco sem redução e sem limitação da abertura de boca.

Qual o problema disso? Bom, a classificação pressupõe  que cada uma dessas subdivisões agrupa os casos que são iguais entre si, mas isso não é verdade. Por exemplo, um paciente pode ter um disco deslocado tanto por um traumatismo como por um ataque auto-imune aos ligamentos e ao próprio tecido do disco e ambos são completamente diferentes entre si, tanto do ponto de vista do diagnóstico como do tratamento!!!

Abaixo, temos um exemplo:

Ambas as imagens acima são de casos onde há deslocamento anterior de disco articular (pacientes diferentes). Um deles foi ocasionado por traumatismo e o outro por doença autoimune, você consegue diferenciá-los?

Ambos os casos apresentam testes clínicos que tipicamente levam ao (pseudo) “diagnóstico” de deslocamento anterior de disco com redução pela classificação do RDC-TMD.  Em situações assim, é muito comum um profissional pressupor que um exame por imagem não irá mudar nem o “diagnóstico” nem o tratamento e por esta razão muitas vezes o considera desnecessário.

Entretanto, à luz do conhecimento atual, a RM revela que embora  ambos sejam da mesma classificação do RDC-TMD, os dois casos são bem diferentes entre si. Por exemplo, além de outras coisas que podem ser vistas, uma das imagens apresenta  uma acentuada degeneração tecidual do disco com perda de sua morfologia (da forma natural que o disco deveria ter) enquanto a outra mostra o disco deslocado mas ainda íntegro em sua forma. Além disso, um dos casos apresenta mais danos nos ligamentos que o outro e, principalmente, um deles tem boas chances de ser recuperado com a terapêutica correta enquanto que o outro tem chances muito pequenas!

Ou seja, isso muda TUDO!

Claro, estou reduzindo o assunto a apenas um corte de imagem, mas obviamente cada um dos dois casos possuem muitos outros parâmetros como exames laboratoriais, mapeamento genético e aspectos diferentes da anamnese que permitiram efetivamente DIAGNOSTICÁ-LOS. Entretanto nestas imagens já se pode observar as diferenças e indícios de seus respectivos fatores causais. Por fim, o ponto em questão é: apenas classificar como “deslocamento de disco sem redução” é insuficiente para estes casos, pois o tratamento de cada um requer abordagens distintas.

Aos colegas que se interessam em se aprofundar no diagnóstico por imagem, convido-os a participar de alguns dos eventos do Ge-JAL e da ABCM que irão abordar muitos detalhes referente a este tema:

Programe sua agenda!

Atenciosamente,
Marcelo Matos