Na década de 1970 e 1980, a odontologia incorporou o modelo biopsicossocial da área médica que ganhou força no campo das disfunções da ATM e dores orofaciais desbancando em parte, o modelo anterior (o gnatológico) que era bem mecanicista, centrado na oclusão dentária e que deu origem a procedimentos bem conhecidos como os desgaste seletivos, ajuste de guias de desoclusão, etc., mas que possuiam resultados clínicos estatisticamente muito baixos no tratamento das dores crônicas temporomandibulares.
Dentre outras coisas, um dos principais motivos para essa mudança de paradigmas aconteceu por que se começou a relacionar um aumento da incidência de DTM com o estresse da vida moderna, gerados por fatores como ansiedade, depressão e outras variáveis relacionadas aos estados emocionais. Neste período, mais e mais as pesquisas passaram a mostrar o peso dessas variáveis no aparecimento da dor nas DTM´s e, em paralelo, o tratamento tendeu para o lado da psicologia cognitivo comportamental, afinal seria preciso mudar o estilo de vida do paciente, reduzir o estresse e fazer ele lidar com suas emoções de maneira mais positiva. É dessa época que vem o comportamento dos dentistas que quando estão frente a um paciente de dor que não melhora após algum procedimento (normalmente de fundo gnatológico, como uma placa miorrelaxante ajustada em articulador semi-ajustável), dizem: “Seu problema é o estresse, vou te encaminhar para um psicólogo” ou “sua dor é psicológica” ou “você está somatizando porque é muito ansioso” .
Não que esteja errado encaminhar ao psicólogo, muito pelo contrário! Se houver realmente um componente psicoemocional, a indicação pode trazer benefícios ao paciente!
Entretanto o problema do modelo biopsicossocial é que ele é bastante válido para ajudar a entender a manifestação da dor, que é apenas um dos sintomas de um problema na ATM, mas não a doença em sí. O argumento do estresse da vida moderna é facilmente derrubado por alguns fatos históricos, como por exemplo, as descrições de tratamentos para a ATM em papiros egípicios e nas obras de Hipócrates. Ora, se nesta época já havia uma preocupação com as desordens da ATM, logo não é um problema da vida moderna nem o estresse é causa da doença. O estresse é sim um fator bastante importante na manifestação do sintoma dor, mas não o fator etiológico da artropatia (doença articular) responsável pela disfunção da ATM. O modelo biopsicossocial confunde a presença da DOR com a presença da DTM.
Posteriormente, outro modelo foi criado, o multifatorial, com a idéia de interrelação entre fatores agravantes, predisponentes e perpetuantes que quando se somam produzem a DTM. Nesse modelo, os fatores costumam ser identificados (má oclusão, má postura, estresse, hábitos parafuncionais, bruxismo, etc.) e tratados individualmente na tentativa de descontruir a somatória de fatores que causaram a disfunção. Esse modelo por vezes se mescla com o biopsicossocial, em especial, por também confundir a dor com a disfunção (a típica idéia por trás de comentários como: ” se tem estalo e não tem dor, não tem DTM” que sempre escuto em congressos da área).
Mas qual é o problema, se sabemos que nenhum modelo científico é 100% perfeito? Bem, ambos os paradigmas, o biopsicossocial e o multifatorial, falham em uma frequência acima do que ocorre para outras doenças. A quantidade de pessoas que postam aqui no blog, descrevendo uma infinidade de tratamentos já realizados sem sucesso (placa de mordida, laser, fisioterapia, botox, medicamentos, mudança do estilo de vida, terapia psíquica, etc.) apresentam uma abordagem típica destes dois modelos, sendo que depois de tantas tentativas, o desespero com a dor ou o desconforto constante às levam a tentar as cirurgias de ATM e a ortognática, na esperança de melhorar, sendo que estas nada mais são que a tentativa de corrigir um dos fatores (estrutural nesse caso), ao passo que o risco de uma sequela ainda pior se eleva (vide relato de Marilac, a jornada de Abby dentre outras postagens).
Agora raciocinando em cima do que escrevi, convido o leitor a refletir sobre as perguntas abaixo:
Enfim, como se pode ver, é preciso entender as questões relacionadas à ATM por outro prisma, para podermos chegarmos a resultados melhores que os anteriores e esse novo prisma são os conhecimentos atuais em patologia da ATM que entende que não adianta atuar apenas nos fatores de maneira independente (multifatorial) ou mudar a forma como se interpreta a dor (biopsicossial), mas sim através de um processo onde se possa identificar e tratar a causa quando possível e controlar as consequências quando for impossível, usando uma abordagem que restabeleça a função, ou seja, a neurofisiologia. Isto implica ter meios de identificar previamente, quais funções estão afetadas e o quanto estão afetadas por uma alteração patológica.
Atualmente há um grande conhecimento disponível a respeito dos mecanismos patológicos responsáveis pela disfunção da ATM, que é o foco do programa de MINI RESIDÊNCIA CLÍNICA EM PATOLOGIA DA ATM que eu coordeno e que conta com a presença do prof. Dr. Jorge Learreta da Argentina. Para aqueles que se interessam em se aprofundar nesse tema, basta que entre em contato comigo através do e-mail contato@marcelomatos.com
De Marcelo tenho 18 anos estou sofrendo com dor na arm será que teria alguém poderia me indicar em governador Valadares MG ou em minas que dentista especializado em patologia da ATM .. Desde já obrigaeo?
Olá Dani,
No estado de Minas Gerais, em Diamantina, temos o Dr. Marcus Corrêa. Para que a equipe do Dr. Marcus entre em contato contigo, basta acessar o link abaixo:
Tratamento da ATM em Minas Gerais
preciso de uma clínica boa em minas gerais
Olá Dr. vi em um post de outro blog que o zumbido no ouvido tem a ver com a ATM.
“Articulação têmporo-mandibular (ATM) – os especialistas relatam alívio para muitas pessoas que sofrem de ambos, ATM e zumbido. Se você puder alterar o som do zumbido movendo ou pressionando sua mandíbula, ou se ao ranger os seus dentes, sofre de dor no maxilar, ou se tiver problema em abrir muito a sua boca, provavelmente valeria a pena procurar um especialista em ATM. Tenho zumbido no ouvido, será que meu caso tem alguma coisa relacionado, pois como no relato acima o zumbido que ouço ele altera de volume quando preciono a mandíbula ou abro muito a boca. me ajude por favor. Grato eder melo.
Eder
Sim, se há alteração do volume do zumbido quando você força a mandíbula então há uma chance de estarem correlacionados. No entanto, o tratamento da ATM como forma de buscar a solução do zumbido não é dos mais simples e Às vezes é até frustrante. Procure um dentista especialista em ATM para ver como proceder em relação ao seu caso.
Att.,
MArcelo Matos
Olá Dr. Marcelo.
Tenho apresentado sintomas na ATM desde de dezembro de 2008 – dor e cansaço nos músculos da mastigação, do pescoço e às vezes dor de cabeça. Tenho a mandíbula um pouco retruída e mordida cruzada, então coloquei aparelho fixo em abril de 2009, já que os dentistas que procurei me disseram que a correção da mordida era a causa das dores. Porém, a minha dor sempre sumia por um período de tempo e depois retornava. Procurei então uma especialista em DTM e dor orofacial em novembro de 2010. Ela segue a corrente científica multifatorial, disse para eu continuar com a fisioterapia (RPG e relaxamento muscular), com a ortodontia, evitar grandes aberturas de boca e alimentos duros demais e me receitou Sulfato de Glicosamina 500 mg 3x ao dia. Não senti muita melhora no quadro então disse a ela que queria descobrir a CAUSA DO PROBLEMA, FAZER UM EXAME DETALHADO. Aí ela passou uma ressonância magnética SÓ PORQUE EU PEDI!
Já vou fazer a ressonância semana que vem, mas a minha preocupação é: e se eu pagar esse exame caro (740,00 na clínica onde vou fazer) e depois consultar um outro especialista em ATM e a ressonância que eu fiz não servir e precisar fazer outra? Corre risco de isso acontecer? Ou só existe um tipo de Ressonância Magnética?
Depois que li esta postagem eu fiquei mais insatisfeita ainda com a minha dentista. O que eu devo fazer – procurar um outro especialista e fazer o exame depois? Ou fazer o exame primeiro e depois procurar outro especialista? Estou com medo de gastar dinheiro sem conseguir resolver o problema.
Eu também gostaria de saber se há no estado do RJ ou em Minas Gerais especialistas em ATM que seguem a abordagem neurofisiológica.
Grata desde já!
Qual seria o tratamento mais adquado para a reposiçao dos discos articulares?
Ja que as cirurgias a quanto pare causam mais danos que melhoras.
Ana
Como muitas doenças e condições patológicas diferentes podem produzir o deslocamento do disco, o tratamento mais adequado irá depender justamente da identificação dessa causa, que uma vez identificada pode ser controlada (algumas vezes com auxílio de um médico), somada a um descompressão da articulação e realinhamento estrutural utilizando certos dispositivos intra-orais ( que são completamente diferentes das placas comuns tipo as miorrelaxantes e placas de bruxismo) calibrados e orientados pelos exames de imagem e estudos funcionais que confirmarão se, respectivamente, os discos estão recuperaram a posição correta e se o funcionamento mastigatório e muscular estão saudáveis.
Mas isso não é tudo… Lá no início, ainda na fase de diagnóstico, há muitas questões para serem respondidas, como por exemplo se os discos estão danificados demais ao ponto de não valer a pena reposicioná-los, se a doença de base é muito agressiva ou não, enfim muitas coisas que devem ser consideradas devido à possibilidade de interferir no tratamento.
Sugiro que você procure um profissional que tenha experiência em patologia da ATM.
Atenciosamente,
Marcelo Matos
NÃO DEIXE DE ME CONVIDAR PARA A MINI-RESIDÊNCIA EM PATOLOGIAS DAS ATM.
OBRIGADO.
Olá Dr. Sérgio, logo depois do feriado, assim que eu chegar na clínica, eu mando sim o material sobre a Mini Residência.
Atenciosamente,
Marcelo Matos
gostaria sim de saber mais, desenvolver especialmente nesta questão dos tratamentos sem resposta, pacientes refratários, enfim. obrigado, grande abraço.
Olá Dr. Sérgio!
É sempre bom a participação de colegas aqui do blog!
Certamente, a área da ATM é um desafio e aprendizado constante. Nesse contexto, os pacientes refratários são, muitas vezes, os que mais nos ensinam. Felizmente a evolução da odontologia nos últimos anos no campo da patologia da ATM permite reduzir os casos refratários para um número ainda menor.
Esse treinamento em patologia da ATM e na abordagem de casos difíceis é o foco do programa de Mini Residência clínica em Patologia da ATM que ministro aqui em salvador juntamente com o prof. Dr. Jorge Learreta, da Argentina.
Te mando um e-maill sobre o curso em breve.
Atenciosamente,
Marcelo Matos