Todo mundo já deve ter assitido à série Dr. House, onde um médico excêntrico soluciona as situações mais complicadas com uma genialidade inacreditável. Mas que tem a ver isso com o método científico e a ciência baseada em evidência?
“Ciência baseada em evidência” é a expressão utilizada para designar a forma mais atual de se produzir conhecimento científico. Ela teve origem com o movimento médico iniciado por Archie Cochrane, um pesquisador britânico que em 1972 sistematizou o método cientifico de forma tornar possível a obtenção de dados cada vez mais confiáveis para a aplicação da medicina.
Até uns poucos anos atrás, a (quase) única forma de um médico (ou qualquer outro profissional de saúde) tomar uma decisão frente a uma situação clínica, era com base apenas na sua experiência. Por exemplo: ao lado de um leito de um paciente, ao estudar a ficha, os sinais e os sintomas, o médico se lembrava de casos parecidos e usava sua dedução e raciocínio para decidir o que fazer, algumas vezes consultava um livro ou um artigo para se certificar de mais alguma coisa.
Esse método é, em realidade, muito bom e foi o responsável pela formação de muitos médicos realmente geniais, aliás, historicamente, as principais evoluções científicas da medicina (e também das demais áreas da ciência), foram na base da experiência individual, dedução lógica, raciocínio em fisiopatologia e estudos de casos, como por exemplo a descoberta e uso da penicilina, a descoberta da aspirina e a descrição do sistema de circulação pulmonar. Mas então o que a ciência baseada em evidência apresenta de novidade?
Ora, esse novo método científico permite ao profissional de saúde tomar uma decisão baseada não apenas em sua própria experiência, mas somar a ela dados obtidos através de estudos que, devido à forma que são feitos, possuem informações com uma possibilidade muito maior de estarem corretas. Isso proporciona a escolha de tratamentos mais seguros, com menos risco à saúde e cada vez mais eficientes.
Isso é possível devido à chamada hierarquia da evidência científica, ou seja, o grau de “força” de que uma informação seja confiável de acordo com o tipo de delineamento de pesquisa e que é normalmente separada como a pirâmide da figura:
Entretanto nem tudo são flores!!! Estudos de maior “força” nem sempre são possíveis de serem aplicados, seja por questões éticas, morais, financeiras ou mesmo de viabilidade técnica.
Assim, mesmo havendo uma ferramenta tão eficiente quanto a ciência baseada em evidência, continuamos necessitando da experiência individual, da dedução lógica e do raciocínio fisiopatológico para filtrar e discernir o que devemos mudar ou não em nossa prática clínica, assim como o personagem Dr. House, de modo que o ideal, passa a ser um ponto de equilíbrio entre essas duas formas de agir e pensar.
Em futuras postagens, voltarei a abordar o tema com exemplos aplicados às patologias da ATM.
Para quem se interessa pelo assunto, sugiro algumas leituras:
- O texto: “Medicina baseada em evidência: o elo entre a boa ciência e a boa prática clínica” dos autores Alvaro Nagib Atallah e Aldemar Araujo Castro
- O livro: Como ler artigos científicos de Trisha Greenhalgh
- O texto: Medicina baseada em evidência de Wilson Daher, no editorial do periódico Rev Bras Cir Cardiovasc
- O artigo editorial Como ler um artigo científico de Sonia Vieira e William Saad Hossne no editorial do periódico Pesqui. Odontol. Bras.
adoramos lá em casa a serie dr.house é excelente
e deveria passar + cedo inclusive pois é um programa de educaçao e muito interressante…abraços
É uma série bem bacana! Eu ainda não assisti toda, mas bem que poderiam colocar um caso de ATM lá, não é? rsrsrs