Essa é a quarta postagem da série “Oclusão e disfunção da ATM”.
Bom, quem já leu a terceira parte da série e aterrisou aqui nessa quarta parte, provavelmente está se perguntando:
5. E então, quer dizer que oclusão e DTM não tem nenhuma relação entre sí?
De jeito nenhum!!! Nem mesmo os pesquisadores mais radicais conseguem desconsiderar a relação entre oclusão e DTM´s! Da mesma forma que estes pesquisadores falharam em encontrar uma evidência que explicasse como uma má oclusão poderia provocar uma DTM, TAMBÉM FALHARAM EM ENCONTRAR UMA QUE PROVASSE O CONTRÁRIO!!!
Mesmo os pesquisadores mais radicais e céticos não podem fazer vista-grossa para o fato de que um paciente pode, por exemplo, aparecer com uma dor e disfunção logo após fazer algum procedimento que altere a superfície oclusal (uma restauração ou uma “jaqueta”, por exemplo), que reverte ao se retornar a oclusão à situação anterior (uma prova) e que reaparece ao mexer de novo na oclusão (contra-prova). Dito de outra forma, há situações em que encontramos eventos diretamente conectados entre oclusão e sintomas de DTM. Mesmo Greene, um dos autores mais céticos, escreveu o seguinte em uma de suas publicações no Journal of Orofacial Pain:
“(…) reviewing the history of etiologic thinking in
the field of temporomandibular disorders (TMD). I conclude from
this review that not only are the old mechanistic etiologic concepts
incorrect, but also that 2 of the most popular current concepts
(biopsychosocial and multifactorial) are seriously flawed.
Therefore, what we really have at the individual TMD patient
level is nearly always an idiopathic situation—we simply do not
know enough, or cannot measure enough, or cannot precisely
determine why each patient has a TMD.”
Tradução ” (…) revisando a história da investigação etiológica no campo das desordens têmporo-mandibulares (DTM), eu [Greeene] concluo que não só os antigos conceitos etiológicos mecanicistas estavam errados, mas também que os mais populares conceitos da atualidade (o biopsicossocial e o multifatorial) são extremamente imperfeitos. Assim, o que nós realmente temos no nível individual em termos de pacientes com DTM é que quase sempre estamos diante de uma situação idiopática – Nós simplesmente não sabemos o suficiente ou não medimos o suficiente ou não podemos determinar precisamente porquê um determinado paciente tem DTM”
Para quem não sabe, “idiopático” é o termo utilizado na área da saúde para expressar uma situação de doença quando não se sabe de onde ela veio, assim, o que Greene expressou quando escreveu isso é que ele não tem a menor idéia do motivo pelo qual o paciente tem uma DTM!!!
Em outro momento, em uma carta-resposta às críticas feitas pelo do Dr. Carlsson ao seu artigo previamente publicado, o Greene responde o seguinte:
“I also join him in recognizing that the impact
of occlusion on temporomandibular health is not
zero, but I do not see how we are supposed to
“determine it in each individual case” unless
the patient presents with a clear etiologic picture.”
Tradução: “Eu também concordo com o Carlsson e reconheço que o impacto da oclusão na saúde da articulação têmporo-mandibular não é zero, mas eu [Greene] não vejo como podemos ‘determinar o papel da oclusão ‘em cada caso individual’ a menos que o paciente apresente uma clara evidência etiológica”
Ou seja, por não poder medir e não conhecer a natureza causal das doenças da ATM, ele não atribui muita responsabilidade à oclusão MAS TAMBÉM NÃO CONSEGUE DEIXAR DE CONSIDERÁ-LA em uma situação de “clara evidência etiológica”, que poderia ser justamente as situações de prova e contra-prova clínica que mencionei anteriormente.
Na verdade tudo o que conseguiram provar é que o que está definido como “má oclusão” e que tem como base os conceitos gnatológicos, ou seja, as definições de classe oclusal I, II e III, as ditas “chaves oclusais”, os conceitos de proteção mútua e guias de desoclusão, dentre outros não são fatores etiológicos!!! Sabe-se que há uma relação entre dentes e ATM , mas pouco compreenderam dela, provavelmente porque estão olhando para a direção errada. Ao que parece, o que certos pesquisadores definem como “má oclusão” não é o que a natureza considera patológico em termos de encaixe dentário.
Na próxima postagem desta série explicarei um pouco do que a ciência já sabe da relação entre dentes e ATM
Até lá!
Meu amigo
Gostei muito de suas ponderações sobre o tema. Muito lúcidas !! gde abço
Olá Dr. Marcelo.
Sou estudante de Odontologia e estou no 1º período do curso e, para melhor entendimento no futuro, meu professor pediu um seminário sobre oclusão. Ao estudar sobre o assunto encontrei grande dúvida sobre a Oclusão de Classe II e a Oclusão de Classe III. Gostaria, se possível, que o senhor explicasse com suas palavras sobre ambas oclusões.
Obrigada!
Gabriela
Esses conceitos oclusais gnatológicos são facilmente encontráveis em livros textos como McNeil, Okeson, dentre outros, bem como em artigos no Scielo e Pubmed. Dê um pulo na biblioteca da sua faculdade e boa leitura!!!
Atenciosamente,
Marcelo Matos
Bom Dia Dr. Marcelo.
Meu filho chama-se John Sebastian hoje ele tem 3 anos, ele nasceu em Miami, e desde pequeno sempre tivemos uma certa preocupacao pelo formato do queixo e boca dele, fomos em alguns profissionais por la, mas como era bebe nada poderia ser feito. Aqui em Maringa e regiao onde moramos atualmente varios profissionais, inclusive ate quem nao conheciamos, nos advertiram sobre o queixo dele. Ele foi diagnosticado com Classe III de Angle. Ai comeca nosso dilema, como ele tem 3 anos cada profissional tem uma opniao, e todos eles nao nos dao nenhuma certeza dp resultado. Um profissional nos disse sobre aumentar os dois dentinhos da frente para ver se e possivel parar de crescer o queixo dele, outro nos disse para colocar um tipo de aparelho movel dentro da boquinha que ficaria escondido, achei muito perigoso porque pode escapar e ele engasgar. Por ultimo um profissional, que todos esses tratamentos vao colocar ele sofrer e o unico tratamento eficaz e a cirurgia depois dos 12 anos.
Nesses ultimos dois meses percebemos bastante o fato dele deixar o queixo bem para frente, e para piorar ele tem os dois dentes caninos acima bem evidentes, outro dia e ouvi as criancas na escola tirando sarro dele, o chamando de Dracula. Fiquei arrasada. Preciso de ajuda, na sua opiniao, qual e a melhor tratamento para tentar resolver este problema, ele ja esta diagnosticada com problema.
grata,
Rosangela Craveiro
44 3034 9004 –
44 8832 7098
Rosângela
Essa é uma situação bem delicada e eu não poderia opinar sem fazer uma avaliação pessoalmente do caso. O que posso dizer é que essas três possibilidades que você mencionou, são realmente técnicas utilizadas na odontologia neste tipo de situação e, para cada uma delas, há riscos e benefícios que precisam ser avaliados individualmente, para verificar qual melhor se encaixa.
A primeira que você comentou, a de aumentar os dentinhos da frente (feito um “dentinho de coelho”), é uma técnica muito usada na Ortopedia Funcional dos Maxilares e já vi casos de se conseguir um resultado bem rápido e estável, no entanto, não necessariamente irá parar de “crescer o queixo”. Há algumas evidências de que isso induz a parte de cima a crescer mais um pouco acompanhando a de baixo. A limitação maior desta técnica é que implica em um reposicionamento da mandíbula de maneira mais posterior o que pode induzir algumas alterações na articulação da mandíbula a longo prazo. Se a escolha for esta opção, é importante um acompanhamento por imagem da articulação. Converse com o dentista que lhe ofereceu esta técnica para saber se esta limitação se aplicaria em maior ou menor grau ao seu filho. Você também pode procurar outros especialistas em Ortopedia Funcional dos Maxilares para verificar outras opiniões sobre esta mesma abordagem.
A segunda possibilidade que você comentou, a do aparelho móvel, é em linhas gerais, muito similar com a anterior, pois implica num reposicionamento da mandibula, que ao invés de ser feito pelo bloqueio provocado pelo aumento dos dentes da frente, é feito por um aparelho intraoral. Às vezes, os profissionais até combinam essas duas técnicas para obter melhor estabilização da postura da mandíbula. As implicações da mudança de postura da mandíbula também se aplicam aqui somadas ao risco de deslocamento do aparelho, que você mesmo mencionou, logo irá depender de uma decisão em conjunto entre você e o dentista a respeito da segurança deste procedimento.
A terceira, deixar para operar após os 12 anos, também é uma opção viável do ponto de vista das técnicas odontológicas, sendo que as principais limitações são em relação a dois aspectos: 1) o problema irá se estabelecer totalmente durante o crescimento da face para depois ser tratado, o que implica em lidar com um problema mais avançado e isso pode, eventualmente, significar, uma cirurgia mais agressiva e com menor estabilidade e 2) que até os 12 anos de idade, seu filho pode sofrer bastante do ponto de vista social gerando componentes psicocomportamentais difícil de prever, o que pode necessitar de acompanhamento e suporte psicológico desde cedo.
Também é preciso considerar, que uma medida não exclui a outra, por exemplo: o uso da técnica do “dentinho de coelho” ou do aparelho intraoral, pode não resolver totalmente o problema, havendo ainda necessidade de cirurgia quando seu filho for mais velho, no entanto, mesmo quando acontece isso, a situação é favorável pois a cirurgia não irá ter de lidar com o problema totalmente desenvolvido e poderá ser menos agressiva e mais estável.
Enfim, em linhas gerais essas são as principais questões envolvidas, que você deve debater com os profissionais que você escolher. Aliás, estes devem ser os que lhe passar mais segurança e que tenha maior disponibilidade de lhe tirar todas as dúvidas. Um bom profissional, certamente terá o maior prazer em lhe esclarecer todos os aspectos e utilizar a técnica que tenha as melhores chances de um bom resultado.
Atenciosamente,
Marcelo Matos
olá Dr.Marcelo Matos,estou com uma duvida que esta me icomodando não sei se eu sofro d-atm mas tenho alguns dos sintomas como estalos dores ao mastigar por muito tempo.mas o que mais me incomoda é o fato da estética eu estava lendo sobre o assunto e me indentifiquei muito com o d-atm classe II que é quando a mandibula encotra-se em uma posição meio que deslocada pra dentro dando um aspecto ruim a aprencia e eu queria saber se com tratamentos ou cirurgias tem como corrigir essa “deformação”.E um fato importante é que eu fiz tratamento pra correção dos dentes e usei aparelho fixo durante um ano e meio e apos encerrar o tratamento meus dentes voltaram a ficarem tortos e analisando as fotos da pasta que eu fiz no inicio do tratamento percebi que minha mandibula ficou nessa posição citada acima depois do tratamento e foi onde que comecei sentir estalos,eu acho que foi um tratamento mau sucedido então eu queria sua ajuda.
Agradeço desde ja a sua atenção
Daniel
Realmente há uma correlação entre problemas na ATM e sequelas dento-esqueléticas.
Como você deve ter percebido no texto desse tópico a posição de oclusão é, por vezes, uma consequência do estado de saúde ou doença da ATM, portanto, para solucionar situações assim, é preciso inverter o referencial do caso: primeiro investigar o estado de saúde da ATM, definir as metas de tratamento para a mesma e, só depois, posicionar a mandíbula e os dentes. Isso evitará situações como a sua e como esse que relatei em outra postagem: http://www.patologiadaatm.com.br/cirurgia-ortognatica-devo-fazer/
Se tiver interesse em que eu avalie o seu caso, entre em contato com a clínica: (71) 3248-4434
Atenciosamente,
Marcelo Matos
Caro Dr. Marcelo Matos, estou por apresentar minha monografia no curso de especialização em DTMDOF, e o venho tentado pesquisar e argumentar é justamente sobre a relação de oclusão/ortodontia/dtm, que não é simplesmente não existir uma relação de causa/efeito. Preciso de sua ajuda para argumentar de forma mais embasada…tem como me ajudar? Grande abraço.
sérgio mendonça – ortodontista.
smm13@terra.com.br/31 33371685/3199841685
Olá Dr. Sérgio!
Claro que posso ajudar. Esse é um tema muito interessante e que saiu de um extremo a outro. Nem pode ser como pensavam os gnatologista nem opde ser como querem agora, que nada pode ser atribuída aos dentes.
Bom, que tipo de trabalho é o seu (revisão, experimental, observacional, etc)?
Outra coisa… Você está preparado para uma boa “briga”? Pois, não sei se no seu curso é assim, mas de um modo geral, uma situação como essa faz com que apontem todas as armas para você…
Me adicione no msn, que poderemos conversar sobre o tema: contato@marcelomatos.com
Abraço,
Marcelo Matos
http://www.marcelomatos.com