“Você atende plano de saúde?”

Essa é uma pergunta bem frequente aqui pelo blog e por e-mail e a resposta é: não, eu não atendo. Aliás, na área de disfunção e patologia da ATM é muito difícil encontrar profissionais que atendam planos de saúde para essa finalidade, mas você sabe por quê isso ocorre?

As seguradoras de saúde que estão por trás dos planos e convênios de assistência à saúde, em suas esferas superiores (consultores científicos, diretores, etc) sabem que existe muitas vertentes e linhas diferentes de tratamento das disfunções  da ATM e isso, por si só, já os fazem recuar quanto a possibilidade de oferecer esse tipo de cobertura para seus afiliados. Eles sabem da polêmica em torno das disfunções da ATM e sabem também que a maioria dos tratamentos oferecidos não soluciona o problema por terem um caráter mais paliativo que corretivo, implicando custos do tipo “bola-de-neve” à medida que o paciente vai piorando.

Nos EUA, há uns 20 anos, houve um processo contra um dentista famoso na comunidade científica, movido por um paciente que havia começado a ter problemas na ATM logo após ter feito um tratamento ortodôntico. No final, a seguradora de saúde foi quem teve de pagar a conta e daí em diante, os planos recuaram e se tornaram muito reticentes quanto ao tema das DTM´s.

Imagine a seguinte situação: um paciente vai a um dentista que oferece um tratamento “X”, o plano de saúde paga a conta, mas após pouco tempo o paciente volta a ter problema e procura outro dentista que oferece o tratamento “Y” e o plano novamente paga a conta. Posteriormente a situação se agrava e um terceiro dentista oferece um tratamento “Z” e o plano é solicitado a pagar a conta mais uma vez… Será que paga? A resposta é simples: não. Certamente irá criar mil e uma dificuldades.  Aliás, por já conhecerem esse efeito bola-de-neve nem mesmo pagam a primeira vez.  Além disso,  o setor jurídico do plano entende isso como um grande risco pois se o  paciente muda de tratamento é porque o anterior não deu certo e pode ter ficado sequelas (principalmente no caso de cirurgias, desgastes oclusais, etc), as chances dele processar o plano ou mesmo o dentista aumenta muito e quem irá pagar a conta se isso acontecer será a seguradora de saúde que é quem assegura tanto o plano de saúde, como os convênios e mesmo os profissionais de saúde. Assim, eles preferem cortar o “mal pela raiz” e nem oferecer cobertura a este tipo de tratamento.

Um exemplo dessa bola-de-neve da qual as seguradoras de saúde tem conhecimento é essa postagem feita por uma internauta aqui no blog.

Eventualmente aparecem alguns planos de saúde menores ou um convênio ligado a um órgão ou empresa (geralmente estatal ou de capital misto) que resolve incluir alguma coisa da área de DTM no rol de procedimentos oferecidos aos seus funcionários e/ou colaboradores, eu mesmo já recebi  algumas propostas aqui na clínica. Entretanto essas propostas ou estão completamente fora da realidade financeira e acabam por serem totalmente inapropriadas tal qual o SUS ou simplesmente é a cobertura de uma plaquinha “miorrelaxante” (ou alguma outra qualquer) e um certo  numero de sessões de “ajustes” da mesma.

Bom, se os tratamentos das disfunções da ATM se resumisse a isso, talvez até funcionasse, mas essa não é a realidade. Há muito mais coisas envolvidas em termos de patologia da ATM que precisam ser consideradas para que um tratamento dê certo (quanto à plaquinha, leia o tópico: Plaquinha resolve? ).

Mas o que pode ser feito?

Há uma maneira de utilizar o plano de saúde nessas situações, praticamente o inverso do que as pessoas normalmente fazem.  Explico: já tive pacientes que realizaram o tratamento de forma particular e acionaram o plano para um reembolso seja pelas vias normais do plano/convênio seja por via jurídica. Portanto, ao invés de esperar uma autorização do plano que nunca acontecerá, o paciente deverá iniciar o tratamento e documentar de maneira bem organizada todo o andamento da situação, de modo que quando o quadro melhorar e se estabilizar, um relatório poderá ser fornecido com os dados pertinentes ao caso, que irá servir de base para o processo.

Quanto mais demorar para tratar a ATM maiores são as chances do problema progredir e se complicar, assim, não dê bobeira e não deixe sua saúde esperando, cuide dela que ela cuida de você!

Fique esperto