Em uma postagem anterior, introduzi o assunto “ciência baseada em evidência”. Mas como funciona isso na prática?

Vou dar um exemplo: se um pesquisador deseja responder a seguinte pergunta: “Qual é o melhor tratamento para uma dor facial inespecífica, se, por exemplo, uma nova técnica de manipulação da mandíbula ou a medicação padrão normalmente usada para essas situações?

Como funciona, na prática, a ciência baseada em evidência?

Como funciona, na prática, a ciência baseada em evidência?

Esse pesquisador precisará separar dois grupos “iguais”, aplicar as terapêuticas diferentes e verificar qual dos dois obtém melhor resultado. Parace simples não é? Mas não é tão simples assim. É preciso de certos cuidados para evitar a introdução de erros no trabalho, os vieses, que podem tornar os resultados menos confiáveis e, às vezes, podem até comprometer totalmente!

No exemplo acima, se os dois grupos não forem “iguais” (para uma determinada variável) nunca poderemos ter certeza se a diferença no resultado foi devido à nova técnica de manipulação ou a alguma diferença no grupo experimental. Por exemplo, caso esse grupo fosse composto, digamos, por pessoas que naturalmente respondam bem a exercícios físicos, poderia ser que houvesse uma tendência de um falso resultado positivo favorável à aplicação da manobra.

Então este tipo de pesquisa, necessita de um processo aleatório de distribuição dos indivíduos para equalizar os grupos,  chamado de randomização. Esse processo vai aumentar a possibilidade dos dois grupos serem similares, para certos aspectos. Além disso, muitos detalhes precisam entrar nessa equação: como o tamanho da amostra, que é o número de indivíduos nos grupos, se a amostra reflete alguma determinada população e a forma de mensuração dos resultados.

Também é importante “cegar” o trabalho, que significa tornar os dados dos tratamentos indisponíveis ao avaliador e colaborador da pesquisa  que irá interpretar e medir os resultados. Isso é importante para que não haja tendência do avaliador favorecer um determinado resultado, mesmo inconscientemente e introduzir um viés na pesquisa. Quando possível, que não é o caso do exemplo acima, o indivíduo que recebe o tratamento proposto pela pesquisa também deverá estar “cego”, ou seja, não saber se o tratamento que está recebendo é o experimental ou o convencional, algo que obviamente não é sempre possível e envolve questões morais e éticas, sendo necessário a aprovação do conselho de ética em pesquisa (que normalmente extiste nos centros universitários de pesquisa ) e também o consetimento do paciente.

Como podem ver, não é simples fazer pesquisa baseada em evidência e este foi apenas um exemplo do que seria um trabalho do tipo ensaio clínico, randomizado, cego (ECR). Muitas outras formas de delineamento de pesquisa são também muito importantes, como os estudos observacionais, transversais, coortes, caso-controle, relato de caso, séries de casos,  entre outros.

Cada um desses delineamentos tem vantagens e desvantagens e precisam ser utilizados da maneira mais coerente possível, pois nem sempre o estudo de maior “força” científica pode ser usado. Quem participaria de um ECR duplo cego, randomizado, controlado, cruzado, para testar um modelo novo de páraquedas (com seres humanos)?

Muitos delineamentos que seriam perfeitos ficam impedidos por questões morais, éticas ou mesmo de inviabilidade técnica, restando o bom e velho sistema do uso do raciocínio fisiopatológico, dedução lógica, analogia de casos e a experiência profissional para ponderar sobre uma determinada evidência.