Muitos internautas me escrevem interessados em vir a Salvador e um dos pontos que sempre geram dúvidas e se devem ou não fazer suas ressonâncias magnéticas da ATM em sua própria cidade ou deixar para fazer aqui em Salvador.
Ora, em realidade tudo depende da qualidade das imagens e, portanto, resolvi fazer uma postagem aqui mostrando exatamente isso.
A imagem abaixo é de uma internauta do Rio de Janeiro, que me autorizou a postar as imagens dela aqui. O instituto onde ela fez o exame gerou imagens ponderadas em T1 e T2. A imagem que você vê abaixo é do corte que melhor permitiu ver o lado direito e está em T1, que é um tipo de protocolo de aquisição no qual o sinal de ressonância magnética emitido pelos prótons de hidrogênio presente nos lipídios são lidos com maior ênfase:
Observe que a resolução está bem baixa, isso ocorre pois provavelmente o exame foi realizado com bobina de cabeça ou outra que não é específica para ATM, isso faz com que a imagem tenha de ser ampliada posteriormente à aquisição. Agora, comparando a original com a colorida, observe que mal da para ver a forma do disco, pois os contornos se confundem com os limites da fossa mandibular. Os ligamentos posteriores também não estão visíveis. Veja também que não temos uma boa definição dos limites dos contornos do côndilo, que deveriam aparecer em preto (hipossinal), sendo que a única coisa que se vê razoavelmente bem é a medular do côndilo (hipersinal – a parte mais clara). Em resumo, vejam quantas perguntas importantes essa imagem de ressonância magnética deixa em aberto:
- Qual o real estado do disco em termos morfológicos (de forma)?
- Os ligamentos posteriores não estão visíveis por que estão rompidos ou por que a resolução e a configuração selecionada para a ponderação em T1 não permite visualizá-los?
- A falta de contraste entre o hipossinal da cortical e o hiperssinal da medular do côndilo é porque há lesão ou porque a resolução e os parâmetros (TR e TE) selecionados para T1 não estão adequados?
Sem essas respostas e considerando que não foram feitas imagens em densidade de prótons, que é uma ponderação que permite melhor visualização do disco na maioria dos casos, um paciente que me chegue no consultório com essa ressonância em mãos, terá realmente que fazer um novo exame, pois eu jamais poderei fechar um diagnóstico sob essas condições.
Vejam agora uma boa imagem (não é do mesmo paciente, nem foi feita na mesma ponderação), realizada em um dos vários centros de imagem de Salvador, que tive a oportunidade de visitar, conversar com os radiologistas e explicar como quero as imagens. Em realidade, muitas vezes o que acontece é que o radiologista simplesmente não sabe o que exatamente o clínico quer ver. Geralmente, quando o clínico explica o que quer, o radiologista pode ajudar muito mais, configurando os parâmetros conforme a necessidade. Desde, é claro, que esteja usando um equipamento de ressonância apropriado, com bobina própria para ATM ou, na fata desta, uma bobina para áreas pequenas:
Não precisa ser nenhum especialista para perceber que essa última imagem tem qualidade muito superior e permite responder às perguntas acima, que é o mais importante!
Portanto, se estiverem pensando em vir a Salvador, me enviem primeiro as imagens que tiver, para que eu possa avaliar se precisa de uma nova ou se podemos aproveitar a que já possui. Atentem para o fato de que o código de ética odontológica me impede de enviar requisição de exames ou emitir qualquer tipo de parecer que configure consulta à distância ( sem ter feito uma avaliação pessoalmente). Explico isso pois imagens enviadas para mim serão analisadas apenas para dizer se poderão ou não ser aproveitadas quando da sua vinda à Salvador com a finalidade de facilitar e diminuir o tempo de estadia, que fica aumentado quando se necessita realizar o exame aqui.
Acessem também o site www.DTMnuncaMais.com.br que é voltado justamente para pacientes de fora.
Se você, leitor, é dentista radiologista ou mesmo especialista em DTM e dor orofacial conheça o curso de diagnóstico por imagem nas disfunções e patologia da ATM e também a Mini Residência em Patologia da ATM.
Atenciosamente,
Marcelo Matos
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